Itacaramby

Este blog é um projeto, de agregar interesses em torno da arte produzida e existente no Vale do Paraiba, compartilhar um espaço onde pessoas ligadas à nossa História encontrem informações e expressões sobre pintura e imaginária; muitos têm interesse em seus mitos e raízes, a arte cumpre parte importante neste papel. Nosso objetivo é vermos as imagens de ontem e hoje produzidas por pessoas próximos à nós. Compartilhe deste projeto com suas idéias e materiais.
O Palácio Boa Vista está inserido na geografia do Vale do Paraíba e possui uma notável coleção representativa de obras de arte brasileira dos séc. XIX, XX, do Modernismo à arte abstrata.
Este acervo é importante para todos os paulistas, porém, nós paulistas do Vale do Paraíba somos privilegiados com a proximidade que temos com Campos do Jordão e que nos permite visitar e revisitar este Palácio/Museu com sua coleção criteriosamente escolhida, estudada em cada peça, e zelada para que todos os visitantes possam, ao olhar essa coleção, fazer um passeio pela arte brasileira e de certa forma, pelo Brasil.
Poucos talvez consigam avaliar a importância ou a preciosidade deste acervo para o imaginário do visitante. No entanto, o relato de uma mudança no Palácio Boa Vista, em 2004, quando a tela “Operários[1]”(1933) da artista Tarsila do Amaral foi removida de onde estava, e transferida para a Estação Pinacoteca pode evidenciar essa importância. Esse fato ocasionou um tumulto pois muitos visitantes estranharam a ausência da tela exposta há mais de trinta anos naquela parede de uma das salas do andar térreo. Onde estaria “Operários”, quando ela retornaria para a parede do salão dos despachos? Essas perguntas que, de início, eram feitas aos monitores do Palácio, passaram a ser enviadas em cartas para os jornais da capital sob a forma de reclamações indignadas. A Câmara dos Vereadores de Campos do Jordão teve uma sessão plenária agitada, e até a Prefeitura interferiu junto ao governo estadual cobrando a volta da tela que já estava segura na Pinacoteca do Estado.
O que pode ter ocorrido no íntimo dos visitantes para tê-los incomodado tanto assim?
Traçando um paralelo com um fato histórico, poderemos entender que não era só a ausência da tela de 150x250 que incomodava o visitante do palácio, mas o vazio deixado na parede do salão era um fato que chocava a todos.
Numa manhã, em 1911, no museu do Louvre um homem franzino roubou a Mona Lisa. O roubo foi notado no dia seguinte, e assim, mais de sessenta detetives envolveram-se com o seqüestro da Dama que ocupou as primeiras páginas dos jornais. Paralelamente, pequenas multidões ocorreram ao Louvre para, pasmados, olharem o vazio deixado na parede. Inquietos, olhavam perplexos para o local desocupado onde antes estava o quadro. Este relato foi estudado por muitos autores e existe uma recente publicação, O Roubo da Mona Lisa[2], da autoria um psicanalista inglês, Darian Leader, que deixa claro a inquietação que causa o espaço especial sagrado que a obra de arte habita. Um espaço que não podemos ver, mas que ao surgir nu, com a retirada de uma tela, é muito perturbador. Assim ocorreu com os visitantes do Palácio Boa Vista e com a tela de Tarsila do Amaral no ano de 2004.
Ler esse livro de Leader, ou visitar o Palácio Boa Vista, pode dar uma idéia do significado deste, aparentemente pequeno incidente, mas devemos também perguntar aos responsáveis pelo Palácio Boa Vista o paradeiro da tela "A Maternidade" de Vicente do Rego Monteiro da qual muitos tem sentido a falta e notado a longa ausência...
1] Col. Gov. Estado de São Paulo
[2] Darian, L., O roubo da Mona Lisa: o que a arte nos impede de ver/ tradução José Silva e Sousa.- Rio de Janeiro, Elsevier,2005
Acima: rua Humaitá, Nestor Peres, ost, acid 1990. Este artista fez dez telas da cidade.
Esquerda: Fecularia Rennó, (Santana) George Gütlich 1997
(col. part.)
Iconografias fazem uma ligação histórica permitindo, muitas vezes, reconhecer e preservar a lembrança de locais que passaram por transformações urbanas ou já não existem mais. Temos muitos exemplos da chamada pintura iconográfica já que existem, inclusive, colecionadores dedicados a este gênero. Felizmente alguns artistas recolheram em suas telas a representação de locais e edifícios que desapareceram ou passaram por modificações. A Pinacotecadovale apresentará obras iconográficas da região do Vale do Paraíba.
Prefeitura e Câmara Municipal, Blanco y Couto ost0,60x0,60
O banhado, Bernadete Edwards, ast, acie
Igreja Santana, George Gütlicht, óleo sobre tela 1,10x0,90
Banhado, Nestor Peres, óleo sobre tela 0,60x0,50
ver links: www. fundação cultural cassiano ricardo
www. faap.br/museu
Telas do artista Monteiro França (1876-1944) são raras hoje em dia, dificilmente são encontradas, leiloadas ou vendidas. Alguns anos atrás uma elas foi encontrada e apresentava-se muito suja e necessitando de limpeza e restauro. Esta tela, sem data, tem sob a assinatura o local onde foi pintada: Paris, um bosque nos arredores da cidade, possivelmente no ano de 1912, quando o pintor recebeu uma bolsa do Pensionato Artístico do Governo do Estado.
Monteiro França pintava paisagens no local, como cita Tarasantchi,R. "muitos pintores eram atraídos pela escola de Barbizon,... alguns iam pintar nos bosques de Fontainebleau." Este artista tinha trazido consigo a experiência do convívio com os expressionistas italianos e uma experiência do período parisiense. Possuidor de muita técnica, preocupado com a perspectiva, o desenho não desprendia do fundo.
Contudo a tela apresentava-se baça, com manchas de fungos decorrente da umidade, desgaste na camada pictórica e um tom escuro decorrente do verniz oxidado e acúmulo de poeira na superfície. Existem laboratórios e técnicos que trabalham unicamente om restauro de obras de arte, um ofício difícil, laborioso pois é necessário que o profissional reuna desde conhecimentos de história da arte até química e muita paciência e experiência. Praticamente todas as telas passam por um restauro de cada 50 anos. Anexo algumas imagens deste procedimento.
Rio do Peixe, ost, s/d. prop. Fundação Itaú Cultural
ver link: Itaú cultural
visite: www.cidinhaferigoli.com
Debret foi o primeiro artista que esteve no Vale do Paraiba. Este artista francês permaneceu trabalhando no Brasil por quinze anos, quando regressou ao seu país de origem, em 1831, levou centenas de desenhos para ilustrar o texto de sua obra "Voyage pittoresque et historique au Brasil"publicado em 1834-39 pelo mais importante editor da época. Foram três volumes, mais de quinhentas páginas de texto e cento e cinquenta e seis estampas.
Há cinquenta anos atrás esta coleção foi encontrada e adquirida por um brasileiro, Raymundo Ottoni de Castro Maya. Segundo consta o segmento mais importante e notável desta série de gravuras e desenhos são as panorâmicas do Vale do Paraiba, elaboradas em 1827 pois viajando do Rio de Janeiro para São Paulo, Debret documentou a paisagem, as vilas, flora e também os habitantes rurais da região valeparaibana.
Essa importante coleção faz parte do acervo de uma fundação carioca, da Fundação Castro Maya, do Rio de Janeiro.
ref. bibliográfica:
Jean Baptiste Debret, São Paulo, Cia. Ed. Nacional, Brasiliana, vol 352, 1973, p59.